quinta-feira, 7 de abril de 2011

Barbárie e educação

Hoje de uma forma ou de outra recebemos informações da mídia sobre o assassinato em massa em uma escola no Rio de Janeiro cometido por um ex-aluno, munido de armas e técnica para manuseá-las, questão sem precedentes na história do Brasil.

As reportagens que trataram a notícia de variadas formas chegaram a uma indagação: o que levou o jovem a atacar a escola em que foi ex-aluno?

Refletindo entristecida diante do acontecimento cheguei a variadas indagações que quero compartilhar com vocês:

1. O jovem se utilizou da técnica para lançar sua raiva sobre seus pares. Ele não chegou lá despreparado, se utilizou de avançadas técnicas e instrumentos (armas) para realizar sua ação. Então pergunto: variadas vezes na história o ser humano se utiliza da técnica para matar friamente, podemos comparar com Hitler no holocausto, que assassinou em massa e ainda por gabinete, dentre outros citados pela mídia que se  utilizaram fortemente da técnica para matar. A técnica pela técnica pode formar monstros, se aprendo a técnica sem ética posso fazer  dela um terror.

2. O jovem se voltou contra seus pares e contra sua história escolar. Que tipo de escolas estamos construindo e oferendo? Porque o jovem tinha esse ódio contido em relação a sua vida escolar? Qual foi seu histórico escolar? Ninguém percebeu? O que o calou e fez conter a raiva até que fosse explodida de forma brutal? A barbárie está presente em nossas escolas e talvez estamos querendo fingir que não vemos, porém esse jovem hoje a escancarou diante de nossos olhos.

3. A escola reflete a sociedade ou a sociedade reflete a escola? Que sociedade é essa e que escola é essa da qual participamos no século XXI? Há espaço para a humanização das relações? Somos todos máquinas produtivas de algo que nem sabemos bem o que? Estamos enlouquecendo? Que sistema é esse? Que loucura é essa? Uma sociedade que se torna mais desenvolvida em relação a técnicas e acesso a tecnologia começa a refletir aspectos monstruosos de sua desumanização? Por que a mídia nos comparou aos Estados Unidos? Por que isso acontece lá há mais tempo? Isso não tem freio???

Como educadora hoje me sinto infinitamtente entrestecida  e considero que estamos em um dia de luto, por todas essas crianças que foram mortas de forma brutal. Mas, também estamos em um momento de alerta, esse jovem criminoso escancarou que nossa sociedade e escola brasileira estão com problemas éticos e morais sérios, extremamente sérios.

Carecemos de pesquisa científica que busque entender essa sociedade e escola brasileira para formulação de políticas públicas que mudem nosso projeto educacional, pois estamos a beira de maiores desastres públicos, porém já presenciando dia-a-dia barbáries que acontecem silenciosamente nas salas de aula, corredores e pátios escolares. Algo está errado com o sistema e não somente com o jovem criminoso, podemos passar bastante tempo estudando sua personalidade e histórico de vida, porém é preciso estudos sobre o sistema em geral (tanto de nossa sociedade como escola), segundo Adorno (2006, p. 127) "em cada situação em que a consciencia é mutilada, isto se reflete sobre o corpo e a esfera corporal de uma forma não livre e que é propicia à violência".

É urgente estudar a barbárie instalada em nossas escolas para freiá-la!! Bárbárie refere-se ao preconceito delirante, a opressão, o genocídio e a tortura e é preciso opor-se a ela principalmente na escola (ADORNO, 2006).

O que aconteceu hoje é muito grave!! Vamos esperar que outros acontecimentos como esse simplesmente se repitam???

Educação para que??? O centro de toda educação já afirmou Adorno (2006) deveria ser um posicionamento contra a barbárie, educar para que acontecimentos como esse relatado hoje pela mídia e como o Holocauto (estudado por Adorno) jamais se repitam!!

Entristecida, porém com vontade veroz de que a educação mude no Brasil,

Solange Toldo Soares